A palavra “barroco” tem sua origem controvertida. Enquanto alguns afirmam que está ligada a um processo relativo à memória que indicava um silogismo aristotélico de conclusão falsa, outros defendem que designaria um tipo de pérola de forma irregular, ou mesmo um terreno desigual, assimétrico. 

Padre Antônio Vieira
Ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o "impiedoso" Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes para os padrões da época.
Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por defender o monopólio comercial) e os administradores e colonos (por defender os índios).

Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. A obra do Padre Antônio Vieira pode ser dividida em três tipos de trabalhos: Profecias, Cartas e Sermões.
As Profecias constam de três obras: História do Futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum. Nelas se notam o sebastianismo e as esperanças de que Portugal se tornaria o "quinto império do Mundo". 

Segundo ele, tal fato estaria escrito na Bíblia. Aqui ele demonstra bem seu estilo alegórico de interpretação bíblica (uma característica quase que constante de religiosos brasileiros íntimos da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um nacionalismo megalomaníaco e servidão incomum.
O grosso da produção literária do Padre Antônio Vieira está nas cerca de 500 cartas. Elas versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia, transformando-se em importantes documentos históricos.  
O melhor de sua obra, no entanto, está nos 200 sermões. De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o pregador português joga com as idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos de retórica dos jesuítas. 

Um dos seus principais trabalhos é o Sermão da Sexagésima, pregado na capela Real de Lisboa, em 1655. A obra também ficou conhecida como "A palavra de Deus". Polêmico, este sermão resume a arte de pregar. Com ele, Vieira procurou atingir seus adversários católicos, os gongóricos dominicanos, analisando no sermão "Porque não frutificava a Palavra de Deus na terra", atribuindo-lhes culpa.
Gregório de Matos Guerra
Uma das principais referências do barroco brasileiro é Gregório de Matos Guerra, poeta baiano que cultivou com a mesma beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista .
Na poesia lírica e religiosa, Gregório de Matos deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito (como de hábito na época) entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mundana. Contradição que o situava com perfeição na escola barroca do Brasil. É patente do movimento nativista quando ele separa o que é brasileiro do que é exploração lusitana.
Carpe Diem
O tema central do Barroco se encontra na antítese entre a vida e a morte. Daí decorre o sentimento da brevidade da vida, da angústia da passagem do tempo, que tudo destrói. Diante disso, o homem barroco oscila entre a renuncia e o gozo dos prazeres da vida.

Quando pensa no julgamento de Deus, foge dos prazeres e procura apoio na fé. Quando a fé é insuficiente, a atração dos prazeres o envolve e cresce o desejo de desfrutar da vida.      Por isso, o Carpe Diem, expressão latina que significa “aproveita o dia (presente)”, é um dos temas freqüentes da arte barroca. A mocidade ou a juventude é freqüentemente comparada à flor que é bonita por pouco tempo e logo morre. Daí o apelo dos poetas barrocos.
O Carpe Diem é um tema que vinha já da Antiguidade, mas no Barroco foi desenvolvido de forma angustiada, pois era uma tentativa de fundir os opostos, de conciliar o que, no fundo, é inconciliável: a razão e a fé, a matéria e o espírito, a vida carnal e a vida espiritual.
Barroco X Renascimento
O homem do período renascentista acreditava que a cultura mais perfeita era a cultura desenvolvida em meio ao paganismo. Acreditava que a arte, a ciência e a erudição tinham florescido durante o período clássico, Grécia e Roma, e na capacidade de ação do homem, na sua atuação como ser dono do Universo e capaz de modificar tudo à sua volta. Na literatura eram imitados os textos da antiguidade Clássica. 

Já o homem do período barroco  estava dividido entre a religião e o paganismo, entre a verdade e a mentira, o amor e a solidão, o pecado e o perdão. As poesias são rebuscadas e utilizam o jogo de idéias, são assimétricas e apresentam antíteses, reflexo do conflito em que o homem barroco vivia
Literatura Barroca
Literatura barroca é uma área da literatura ocidental, produzida sobretudo no séc XVII, teve a sua compreensão e interpretação crítica extraordinariamente aprofundada e esclarecida graças à introdução no uso crítico e historiográfico do conceito de barroco literário. 

O termo veio das artes plásticas e visuais, com um sentido pejorativo, designando a arte do período subseqüente  ao Renascimento, que era interpretada como uma forma degenerada dessa arte, pela perda da clareza, pureza, equilíbrio, em troca do exagero ornamental e das distorções. 

Originalmente tal como era corrente nos séculos X.VI e XVII barroco significava arte bizarra, artificial. A etimologia do termo é controvertida. Designando pérola de superfície   irregular, teria sido usada por espanhóis e portugueses (barrueco e barroco). 

Por outro lado, a palavra fora usada pela escolástica medieval, como termo mnemônico do silogismo e assim aparece em Montaigne com intenção irônica, pois então queria dizer raciocínio estranho, vicioso, confundindo o falso e o verdadeiro. Até o  século XIX, permaneceu este o significado: argumentação barroco; imagem  barroca; figura barroca.
A revisão da questão se deve a Jacob  Burckhardt, no Cicerone (1855). Mas a sua reformulação definitiva para a história da arte, e depois para a crítica literária, foi empreendida por Heinrich Wolffin  (1864-1945) desde 1879 ao reabilitar a arte barroca, mostrando-a como uma forma peculiar, com valor estético e significado próprios. Estabeleceu Wolfflin a teoria da análise formal das artes, pela qual a passagem de um tipo de arte para outro se processaria segundo princípios internos. 

Assim, à arte renascentista sucedeu  a barroca, não como um declínio, porém como o desenvolvimento natural para um estilo posterior, que já não é táctil, porém visual, não é linear, porém pictórico, não é composto em plano mas em profundidade, nem em partes coordenadas mas subordinadas a um conjunto, não é fechado mas aberto, não tem claridade absoluta mas relativa. 

Tal teoria da definição dos estilos artísticos, à luz dessas categorias, foi aplicada à análise da literatura, nas obras que exprimiram a oposição entre o Renascimento e o barroco, como o Orlando Furioso de Ariosto e a Jerusalém Libertada do Tasso. 

De 19l4 em diante o termo foi absorvido pela crítica literária, e se ampliaram os estudos interpretativos da literatura seiscentista. As velhas denominações , “seiscentismo” , “gongorismo” “eufuísmo”, “marinismo”, “conceptismo”, “culteranismo”, “cultismo”, “preciosismo”, de sentido pejorativo, passaram a ser compreendidas como referindo-se a formas imperfeitas ou não desenvolvidas do barroco e são hoje melhor englobadas sob o rótulo de barroco.
Assim, o barroco é o estilo artístico e literário, e mesmo o estilo de vida, que encheu o período entre o final do século XVI e o século XVIII, em todos os povos do Ocidente, com variantes locais de tempo e fisionomia artística, embora com unidade de características estéticas e estilísticas. 

Mas, ao lado do elemento formal peculiar, o barroco é ligado a uma ideologia, que lhe empresta unidade espiritual, e essa ideologia foi fornecida pela Contra-Reforma.O barroco foi o estilo, a arte de atributos morfológicos adequados á expressão do conceito da  vida dinamizado pela Contra-Reforma em reação ao Renascimento, e de modo a traduzir--se em todas as manifestações artísticas, a16m ao vestuário, da jardinagem, das festas.

A ideologia tridentina comunicou à época e à arte uma fisionomia trágica , dilacerada entre os pólos  celeste e terrestre, entre a carne e o espírito, procurando incutir no homem o horror do mundo, o medo da morte, o pavor do inferno, conquistando-o para o céu pela captação de  imaginação e seus sentidos, para o que usa o ornamental e o espetacular. O homem barroco é contraditório, em estado de conflito, saudoso do paraíso e ao mesmo tempo seduzido pelo mundo e pela carne. 


A literatura barroca, destarte, apresenta caracteres típicos:o fusionismo (união dos detalhes num todo orgânico), o claro-escuro, o eco, a união do racional e do irracional (expressa nas figuras estilísticas paradoxo), a ambigüidade, o caráter grandioso e ornamental (expresso no exagero de figuras estilísticas), figuras de estilo que traduzem o estado de conflito e tensão espiritual (antíteses, paradoxos, contorções, hipérboles, etc) ; o uso dos concetti, wit, agudeza, do tipo de estilo conhecido como genus humile, de forma; epigramática, sentenciosa, breve. 

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É um estilo chamado  filosófico, de pensamento, mais para ser lido do que ouvido, oposto ao estilo ciceroniano, redondo, oratório. 

A literatura barroca inclui grandes nomes do seiscentismo: Góngora, Quevedo, Cervantes, Calderón, Lope de Vega, Gracián, Tasso, Marino, Donne, Crashaw, Shakespeare, Montaigne, Pascal, Antônio Vieira, Rodrigues Lobo, Gregório de Matos, Soror Juana  de la Cruz e muitos outros.